segunda-feira, 28 de setembro de 2009

"Só dá valor quando perde"

"Só dá valor quando perde". Esta expressão talvez seja a mais dita e a mais verdadeira no conjunto dos ditados populares. Pode ser aplicada nos mais diversos "setores" da vida humana. Exemplo: A Secretaria de Educação do Estado de Minas Gerais, já para 2010, pretende senão extinguir, centralizar e diminuir as vagas para o ensino médio no horário noturno. A explicação é a falta de alunos, de recursos, problemas nas escolas, dentre outros. Culpa da Secretaria? Também. Mas o Estado não está sozinho. Os alunos, muitas vezes protegidos pela família, não valorizam a escola, espaço de aprendizagem. A adolescência "moderna" não tem tempo pra dedicar-se aos estudos, mas como diz o titulo, só irão valorizar quando perderem. A conta é bem lógica e prejudicará, sobrtudo os menos favorecidos. Vivemos no mundo do trabalho: trabalhar de dia, estudar à noite; no entanto sem o ensino médio em horário noturno, ou menos pessoas poderão trabalhar ou menos poderão estudar; conta perniciosa independente de qual seja o resultado. Outro lado da questão, já citada acima é falta de interesse de alunos - e de alguns professores. Aquele estudante que cursa o ensino médio em escola pública não tem qualquer custo, e como é de graça, não se dedica. Ao findar o ensino médio, vai teoricamente estudar os mesmos conteúdos, temas, etc... no cursinho, no qual não falta, no qual a família cobra a presença, resultados. É o ciclo vicioso capitalista. Mais uma prova, talvez, de que o conceito de igualdade proposto pelo socialismo não daria certo. "De graça eu não quero, o negócio é movimentar o capital".
Taylor de Freitas

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Chovendo Desgraças

O Chuveiro tem temperamento, alguns ligam, outros nos devolvem a fé.
A ducha de casa funcionava perfeitamente com exceção de um detalhe: a gota fria no meio da enxurrada quente. Não sei de onde vinha, como vinha.
Era um pingente de lago russo.
No inverno, aquela gota gerava um maremoto de raiva. Quebrava o rítmo aconchegante do calor, desconcentrava o apetite. Eu deixava de saborear o resto da torrente para analisar sua origem intrusa, intrigado com o milagre.
De que maneira a gota furava o aquecimento?
A gota dava um tabefe e sumia. A cada dois minutos. Cronometrava, contava alto.
Mais certeira que cuspe de calha de calha, de ar-condicionado. Tumtum nas costas~. Não havia como escapar dela. Usei touca de plástico, óculos de mergulhador, equipamentos submarinos. Não surtia efeito, o minúsculo lóquido prosseguia com sua acupuntura autodidata.
Tremia ao sair do banho. Sua queda na carne retirava o luxo do banheiro vedado, trancado, com estufa. Era uma porta aberta no corpo.
Acabava com a minha custosa técnica de abrir a torneira no ponto certo, sem a luz despencar. Complciado atingir o limite ideal do registro, firmar o estalido de cofre, acertar a temperatura.
Eu me preparava para a surpresa. Aumentava a sensibilidade para reconhecê-la. Fechava os poros para abri-los assustados.
Vinha como um remédio de criança. Sôfrego. Uma gota de paralisia. Caía lentamente separando as vértebras.
Foram três anos lutando contra o pingo e perdendo. Exigia uma atitude aos pais, conversava com os três irmãos e ninguém notava sua aparição. Não trocaram de aparelho. Ele permaneceu, eu é que abandonei a casa.
Minha adolescência durou menos que o chuveiro elétrico.
Dessa guerra caseira, herdei a sina de não abandonar problemas. Se há uma dificuldade, tenho que resolvê-la no ato. Paro tudo o que estou fazendo e tento consertar. A leve irritação vira ofensa pessoal.
Não suporto uma conta em aberto, uma tarefa inacabada, uma inimizade; maltro-me até resolver as pendências. Mas sempre existe um pedido, uma nova reclamação ou um desentendimento. Ter pressa é nao ter paz.
Bastaria seguir adiante para me acostumar. Mas não, meu medo de esquecer me impede de lembrar. Fico travado, em greve, batendo na mesma tecla, insolente, insatisfeito, renitente, sem sair do lugar do incômodo.
Elimino a sensação de toda água quente que passou pelos ombros para valorizar, uma bolha gélida. Faço com que todas participem de minha mobilização imaginária. Se alguém ficar de fora será mais uma gota a ser combatida.
É uma pequena pontada que tronsformo em dor que elevo em trauma que glorifico em incompreensão.
Interrompi vários momentos bons de minha vida pela birra com um detalhe.
O que me leva a crer que não procurava a falha, criava a falha, me dedicava para que o mal-estar prosperasse e justificasse o meu empenho na briga.
Depois do escândalo, preparava outro escândalo para compensar o despropósito da raiva. Não desistia de argumentar para sustentar o erro.
Não é fácil me desligar.
A gota acentuava tão-somente a minha frieza.


Texto de:
Fabrício Carpinejar - Poeta, escritor, jornalista, autor de: As Solas do Sol, Um Terno de Pássaros ao Sul, Terceira Sede, Biografia de Uma Árvore, 30 segundos, Caixa de Sapatos - Antologia, Cinco Marias, Canalha, dentre outros. www.fabriciocarpinejar.blogger.com.br

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Violência

Turminha da Coca, após uma festa, se reúne e espanca até a morte uma Pepsi.

Taylor de Freitas